The Favourite | A Favorita (2018)


Em Dezembro de 2017, o meu coração apaixonou-se loucamente por um realizador. Até então só tinha Nolan como favorito mas depois de ver The Killing of a Sacred Deer como um espetacular exercício do que é um bom filme de terror psicológico, eu achei que nunca mais voltaria a ser a mesma. Yorgos Lanthimos simplesmente assolapou-me. Seguiu-se o famosíssimo The Lobster, ficando-me ainda hoje por ver Dogtooth e Alps. Quando descobri que o realizador tinha um novo projeto, a excitação tomou conta de mim e mais ainda quando comecei a imaginar o quão perturbador este poderia ser (na verdade, existe esta linha condutora nas narrativas de Yorgos a puxar à estranheza de cada um de nós).

Em A Favorita temos um trio de senhoras a tomarem conta desta história, cada uma mais forte e, no entanto, perturbada que a outra. A ação passa-se durante o século XVIII na corte da rainha Anne (Olivia Colman) onde existe uma clara paródia ao que lá dentro se passa. Anne vive numa solidão infinita, onde pouco se dedica ao exercício das suas funções já que ela só dá a cara ao poder que açambarca. No fundo, no backstage, quem toma as decisões importantes por Inglaterra é mesmo Lady Sarah (Rachei Weisz) que, já agora, tem uma prima um tanto ou quanto destrambelhada, Abigail (Emma Stone) que rapidamente ganha um maior protagonismo dentro da corte. 

Assim sendo, em A Favorita temos o desenvolvimento das personagens e das relações que consequentemente se vão estabelecendo. E é aqui que acontece um fenómeno muito engraçado porque em vez da história definir as personagens, aqui acontece o inverso. Assim sendo, a sensação que tenho é que haverá quem se apegará a uma "ausência" de história ao passo que, na verdade, a verdadeira essência deste filme é as suas personagens. Abigail é, sem dúvida, a que mais cresce e/ou se modifica dentro do que nos é demonstrado em primeira mão. Anne e Lady Sarah são as que mais se mantêm consistentes mas nem por isso perdem o seu carisma. De facto, diria que a personagem de Weisz é a mais forte embora a de Emma Stone seja qualquer coisa de absolutamente caricata. No fundo, as três jogam numa outra liga no que toca a jogos de poder e sedução com o intuito máximo de verem as suas necessidades realizadas. Esta luta que se vai estabelecendo oferece-nos momentos verdadeiramente deliciosos de comédia e vingança, ambos bastante bem entrelaçados, havendo também lugar a disputas, intrigas e alianças com homens que, nesta obra, estão em clara desvantagem no que toca à inteligência, poder e presença.

Ao contrário dos trabalhos anteriores, Lanthimos não assina a escrita deste argumento sendo que este fica, então, a cargo de Deborah Davis e Tony McNamara. Portanto, aquilo que mais salta à vista é o final que nas obras anteriores são crus (The Killing) e agressivos (The Lobster), ao passo que este se desvanece deixando o espectador com um sabor agridoce na boca. Pessoalmente tinha preferido uma coisa ou mais fechada ou, ao contrário, mais aberta mas pelo menos não tão sem graça. Aqui A Favorita peca sem dúvida. No entanto, diria que é a única coisa porque, de resto, a assinatura do realizador está totalmente presente: a banda sonora, a forma como ele monopoliza a câmera, em planos bastante abertos (tão típico de Yorgos) ou usando o efeito fish-eye para acrescentar uma certa sensação de claustrofobia, os cenários ricos e detalhados mas visualmente bastante crus e sóbrios. 

A Favorita, a par com Roma, está à frente na corrida aos Óscares e conta com 10 nomeações incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz Principal (Colman) e Secundária (Weisz e Stone) e Melhor Realizador.


Nota final: 4.5/5


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