Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn | Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação De Uma Harley Quinn) (2020)


De vez em quando gosto de ser humilde e ver o que a concorrência anda a fazer. Isto porque, enquanto assumidamente Team Marvel, e tendo em conta que, para mim, a DC a modos que anda a tentar aprender com quem sabe (cof cof), decidi ir ver Birds of Prey. A questão é que, para lá do Joker, não há muito mais que me atraia neste Universo com excepção, claro, de Harley Quinn.


Pondo de parte o facto de ser interpretada por uma das mulheres mais belas de sempre (vulgo, Margot Robbie) mas tendo em conta que eu e a personagem quase que partilhamos o mesmo background académico (se bem que a moça foi ali para Medicina e eu achei que a Psicologia fosse só mais fácil), quando soube que haveria um spin-off da personagem após o desastroso Suicide Squad, e assim que me dei de caras com o cartaz a anunciar a sua estreia, assim que houve oportunidade, ala que se faz tarde e Birds of Prey it is!

E lá fui eu.

Birds of Prey cumpre o que os filmes do género prometem: entretenimento, algumas gargalhadas e muita ação. Se colocarem uma história minimamente apelativa e um conjunto de mulheres fortes que andam à pancada, é certo e sabido que esta que vos escreve vai gostar.

Harley e Joker acabaram a sua trágica, meio louca e muito psicótica história de amor e, por isso, encontramos uma Quinn meio perdida da vida e sem saber o que fazer. Como todas as mulheres que se vêem sozinhas, ela acaba por tomar um conjunto de decisões que, bom, só podem ser fruto da sua recente condição enquanto solteira (tudo bem meninas, todas já passamos por isto!). Assim sendo, e porque mais de metade de Gotham a quer matar, Harley acaba a trabalhar para Black Mask (Ewan McGregor) para salvar a sua própria pele. A partir daí podem contar com bastantes cenas de pancadaria e toda uma ode ao girl power, questão muito premente no nosso estado atual. 

Não sei quanto a vocês mas após o movimento #MeToo que sinto que é quase fácil explorar estas questões mais não seja porque será motivo de falatório. Juntarem um bando de raparigas poderosas a darem cabo do canastro a uma quantidade absurda de homens? Hell yeah! Mas apesar de ser uma convicta máxima da igualdade de oportunidades para todos os géneros, sinto que ao final do dia, o empoderamento feminino ainda é visto e agarrado de uma forma, diria eu, superficial. Apesar de ser giro ver uma Harley a manobrar um taco de basebol (no pun intended seus malandros!) e de, no final, sentirmos que já sabíamos onde a história ia acabar ou, pelo menos, para onde ela acabou por se guiar, o filme em si não tinha que ser tão excessivamente muito à base da premissa "as mulheres são espetaculares e juntas vencemos tudo o que é homem e olhem para nós a darem-vos uma sova do caraças". Não me interpretem mal: gosto e sou apologista mas talvez estivesse à espera de ligeiramente menos. Parte de mim não pôde deixar de sentir que foi quase que uma extensão desta cena de Avengers: Endgame.

Contudo, em entrevista, Margot confessou que foi assim que idealizou o filme, uma vez que desde os Anjos de Charlie não sentia que houvesse um do género, com uma base de girl gang tão assertiva. Robbie esteve envolvida na produção desta obra pelo que teve um grande controlo criativo sobre a mesma, podendo acrescentar que não só não se limitou (algo com o qual teve que lidar em Suicide Squad), como foi na direção oposta.

Posto estas questões de lado, gostei da forma como a personagem de Harley foi trabalhada e muitíssimo bem interpretada por Margot. Na realidade já não conseguiria dissociar uma da outra porque Robbie é estupidamente talentosa a interpretar uma maluca de coração partido (wondering why though...). Desde as expressões faciais à forma como se ri meio divertida/meio maquiavélica, aquilo que a atriz oferece e incorpora no estado de alma de Quinn tornaram-se facilmente para mim pontos referência importantes desta personagem. Paralelamente, é muito interessante acompanhar o percurso de Harley e a sua evolução partindo de uma base de tristeza máxima, com laivos de bebedeira extrema e cortes de cabelo impulsivos, para uma mulher forte e independente que não só se encontra como consegue emancipar-se. Na realidade é muito difícil não nos relacionarmos com esta personagem que, apesar de tudo, surpreende pela sua astúcia e inteligência (não fosse ela ter um Doutoramento, facto que gosta de deixar bem vincado - e eu como nerd gostei de todas as referências académicas que ela fez). 

Birds of Prey é um filme esteticamente muito apelativo, com um grande foco na violência, mas sem nunca cair no erro de ser demasiado, e sobretudo humano. É também divertido e sem dúvida que ninguém dá pelas quase 2 horas de película. A única coisa que me deixou triste foi o facto de Jared Leto não ter aparecido mas atendendo ao facto de que 99% das pessoas não gostou da sua interpretação de Joker, não fiquei chocada, apenas resignada. Para os fãs do género valerá a pena e será uma divertida experiência.

Mensagens populares