Blindspotting | Blindspotting - À Queima Roupa (2018)


Bem vindos à América racista. Preparem-se porque este filme não é para fracos.


Blindspotting é um filme de mensagens subliminares. É subtil e uma pessoa pode acabar por se perder um pouco na narrativa sem saber muito bem o propósito do que está a ver. Mas ele acaba por se justificar. Porque é nestas cenas sem aparente propósito que a verdade vem ao de cima e percebemos o que realmente nos estão a tentar passar.

Collin (Daveed Diggs) é um ex-presidiário a tentar recuperar a sua vida. Faltam poucos dias para a sua liberdade condicional acabar e ele simplesmente quer-se manter afastado da confusão. Infelizmente tal parece impossível quando acompanhado do seu melhor amigo Miles (Rafael Casal) que tem um fraquinho por atrair problemas. Collin é o típico tipo pacífico que só quer que não o chateiem, quer dar a volta por cima e já agora conquistar a miúda com quem esteve envolvido, Val (Janina Gavankar). Pelo contrário, Miles parece mais focado em trazer ao de cima o que de mais violento existe nos dois e, bom, os dois mundos acabam por colidir.

A narrativa situa-se - sem informação em contrário - nos dias de hoje e no estado de Oakland. Foca-se na segregação, e ao mesmo tempo na interseção, das várias etnias que por lá habitam. O objetivo é claro: trazer o tópico do racismo ao de cima, de uma forma um pouco indireta por forma a ser o mais natural possível, e também a mais real, indo de encontro ao que é sentido pelas pessoas, sem haver um claro exagero das situações e das personagens. Porque, diria eu, a pior forma de racismo é aquela que está lá mas que não é assim tão evidente, acabando a ser baseada numa falsa aceitação do outro.

Blindspotting não se prende em "perdoem-me mas vamos falar disto de forma pacífica". Não; é uma obra que nos abre os olhos e nos oferece uma experiência verdadeiramente enriquecedora sem um aparente fio condutor que, no final, resulta muito bem e culmina numa cena muito intensa entre duas pessoas cuja única diferença sublinhada não é a cor mas sim o facto de um ser assassino e o outro não (irão perceber). Levamos um murro no estômago perante a franqueza mas acabamos com certos preconceitos destruídos. No fundo, não poderíamos pedir mais nada.


Nota final: 4/5

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