Love, Simon | Com Amor, Simon (2018)


No mesmo ano em que Call Me By Your Name aterra nas salas portuguesas, eis que nos chega mais uma história que traz a homossexualidade ao de cima e, mais uma vez, como tema principal. Mas apesar de ambos serem filmes deliciosos, Love, Simon não chega aos calcanhares do primeiro se bem que, a meu ver, também não era essa a sua intenção.


De facto, Love, Simon é um típico filme americano de drama adolescente e é tão normal que é aí que reside a sua beleza. Não há a intenção de focar a homossexualidade de uma forma demasiado "hey, isto é um filme sobre gays!". Assim, apesar da premissa interessante e de haver temas que apenas a si dizem respeito (como a questão do coming out) há o foco em outros acontecimentos relevantes inerente à adolescência: o amor, o desgosto mas também a amizade e a traição.

Simon (Nick Robinson) é um adolescente que esconde um grande segredo (nas suas próprias palavras): é gay. Enquanto se debate com os seus próprios medos, há alguém - Blue - que se assume numa plataforma onde todos os jovens da secundária ficam a saber das últimas fofocas. Simon decide responder-lhe e começa assim a troca de e-mails sem que ambos saibam com quem estão a falar.

Ao longo do filme, a personagem Blue vai sendo alterada conforme a percepção de Simon acerca da mesma, embora eu ache razoavelmente evidente quem é este rapaz-mistério (apesar de não ser essa a questão). Embora esta obra seja atual, peca por ser um pouco utópica em alguns pontos o que não deixa de ser surpreendente. Vamos por partes:
  1. Primeiro, existe um rapaz assumido na escola, com um aspeto singular, que é um badass de todo o tamanho e que é gozado por dois totós cuja incapacidade para o fazerem é tão sofrível que ninguém poderia considerar os seus atos dignos de serem bullying.
  2. Há uma intervenção épica por parte de uma professora. Se ter um gay assumido na escola que dá cabo de dois parvinhos parece-me pouco credível, bem como a falta de resposta deles, a forma como a professora fala com os alunos seria caso para a suspender e não aos jovens.
  3. A aceitação dos pais foi muito normal e a dos amigos também. E ainda bem que assim é! Mas nem um bocadinho de choque?
Em todo o caso, há duas cenas que valem a pena serem mencionadas devido à sua importância e premência. Curiosamente focam-se ambas na questão do coming out: a primeira será quando fazem o paralelismo com a heterossexualidade, onde várias personagens se assume como heterossexuais. Achei hilariante e bastante necessária para trazer ao de cima esta necessidade que, assim, se parece tornar obsoleta; a segunda será o diálogo entre Simon e Martin (Logan Miller) onde o primeiro defende a sua liberdade de escolher a quem, como e quando se assume, o que oferece um elemento bastante real e extremamente importante à história toda.

Com Amor, Simon é uma obra decente que merece ser visualizada. Contudo, é também um pouco banal e mais virada para o drama adolescente embora toque em questões importantes. É claro que filmes desta índole continuam a ser necessários mas sinto que o seu valor reside mais na questão da homossexualidade que outra coisa. Francamente, se fosse um romance com duas personagens heterossexuais ninguém lhe daria mais destaque que o necessário. Portanto, até que ponto é que este filmes tem uma vertente mais virada para a mensagem social que a questão económica? Não tem. Apesar disso, não deixa de ser uma história querida e, talvez, necessária, especialmente numa América ainda conservadora. Em termos pessoais, não me aqueceu nem arrefeceu.

"P.S. It doesn’t seem fair that only gay people have to come out. Why is straight the default?"
- Simon


Nota final: 3.5/5

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