Hereditary | Hereditário (2018)


Eu acho que um mal geral na vida de todos os comuns mortais é o excesso de expectativas e a incapacidade para lidar com as mesmas quando saem largamente defraudadas. É por isso que eu ainda não consegui gerir o facto de Hereditário ser um falhanço total. Mas pior que o filme em si é a publicidade à volta do mesmo que me prometeu o mais assustador em anos, aludindo até a um clássico do Cinema, mentindo-me com todos os dentinhos qualquer coisa como "o Exorcista para a nova geração". Mas bom, onde é que eu já terei ouvido qualquer coisa semelhante? Pois. Em praticamente tudo o que é filme de terror. E eu parvinha continuo a acreditar porque, pronto, sou uma otimista. Depois do flop de Verónica, achei que a Vida me iria compensar com Hereditary, uma obra da qual ouço falar há meses e que me criou toda uma antecipação que deixou o meu coração despedaçado.


Annie (Toni Colette), cuja mãe morreu recentemente, tem dois filhos, Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro), e é casada com Steve (Gabriel Byrne). A senhora não é propriamente a maior representação da felicidade e parece lidar com a sua vida de uma forma desinteressada. Mas uma coisa ninguém lhe retira: não há ali grande sorte para aqueles lados porque começam a acontecer toda uma estranha série de acontecimentos cujo grande significado será desvendado no final. No geral, soa familiar, certo?

Apesar da premissa ser extremamente recorrente, Hereditário quer-se escapar à sua banalidade através de uma narrativa complexa e inteligente. Não há mal nenhum nisso e o pessoal agradece. Se, claro, tivesse resultado. Assim, prende-se a pormenores que nos poderão escapar e cujo entendimento, supostamente, contribuiria para o factor medo. Mas isso não acontece. Admito que o significado maior me poderá ter escapado mas mesmo após ler várias explicações online, eu não hesito em dizer que isto são só duas horas de uma grandessíssimo aborrecimento.

Sim, duas horas. Duas.

Primeiro que tudo, quem é que achou que era uma excelente ideia dourar um filme de terror durante duas extenuantes horas? Segundo, mesmo por uma questão de slow-burn, meus queridos, a única coisa que fica a arder é mesmo a paciência porque após uma hora, ainda nada se passou. E quando eu digo nada, é mesmo nada. Outro problema que se coloca, e bem sabemos que as opiniões toda a gente as tem, é o facto de haver um consenso tão grande no que toca à qualidade enquanto obra pertencente a um género tão específico e, portanto, muita gente reconhecê-la como imensamente assustadora. Por isso pergunto-me que referências têm estas pessoas porque eu acho que nem a minha mãe teria medo. Deixemo-nos de coisas e reconheçamos que um filme de terror tem que meter medo. Seja porque saltei da cadeira, seja porque fiquei a remoer no assunto mais do que devia e agora tenho medo de dormir com as luzes desligadas, seja porque me destruiu a alminha, mas tem que ter algum efeito em mim. E para além de uma grande dose de sono, Hereditário não despertou absolutamente mais nada a não ser um abismo de seca.

Hereditary quer ser mais do que aquilo que é o que significa que, de forma pretensiosa, quer ser um filme de nicho. E a coisa tem resultado ligeiramente bem no que toca à crítica internacional. Já não sei se sou eu que sou extremamente difícil de agradar (porque gosto mesmo muito de terror e desenvolvi standards muito elevados) ou se os críticos são - perdoem-me a expressão - uns franguinhos. Mas façam um favor a vocês mesmos e fujam disto, especialmente porque no final obtêm a explicação de toda a obra - onde tudo começa a acontecer nos últimos 20 minutos - e é só tão rebuscado e tão irreal que uma pessoa perde qualquer centelha de interesse que existisse até ao momento.

A minha cara quando me apercebi que Hereditary é uma decepção

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