Série | La Casa de Papel - 2ª parte


Uma das histórias mais aguardadas está de volta! Vá lá que não demorou muito tempo e vá lá que temos a felicidade de ter todos os episódios imediatamente disponíveis, senão julgo que muitos enfartes existiriam às custas destas personagens espanholas.


Eu vou partir do pressuposto que se vocês vieram parar a este post é porque já viram a segunda parte - não estou a conceber qualquer tipo de desculpa para ainda não o terem feito - e por isso ficam já a saber que existirão spoilers aqui pelo meio. Estão avisados!

Eu devo confessar que achei a primeira parte qualquer coisa de espetacular e estava à espera que a segunda se mantivesse congruente nesse aspeto. Mas tal é praticamente impossível, há sempre um decréscimo no entusiasmo e no suspense. E, assim sendo, La Casa de Papel também acusou estes problemas. Na verdade, foi ligeiramente inconsistente porque se houve episódios muito bons, outros perderam-se na maionese e atrasaram o ritmo da história. Achei isso nos episódios 6, 7 e 8, onde foram mais os momentos para enrolar do que para andar com a trama para a frente. Se se tivessem mantido focados no que é importante, então suponho que estes três episódios facilmente se reduziriam a um.

Personagens

Mais uma vez, as personagens são as estrelas da série. Não me interpretem mal, porque obviamente que uma série sem atores não é coisa nenhuma, mas a forma como cada indivíduo fala, pensa e age, está muito bem concebida. Há, sem dúvida, uma grande preocupação em manter estas personagens o mais humanas e real possíveis, sendo que alguns atores talvez tenham dificuldades em descolar-se, num futuro próximo, delas mesmas.

A mais complexa continua a ser Berlim, pese embora o Professor tenha muito mais destaque e lhe seja visto a face pessoal para lá da profissional. Afinal ele também é um querido para além de metódico e inteligente. E muito apaixonado, claro.

Voltemos a Berlim que é simplesmente louco e impositivo, características que lhe conferem um charme muito particular. É claro que a proximidade da sua morte coloca-lhe outras questões e no seu romancezeco com Ariadna, vemos-lhe outra faceta, uma mais preocupada e romântica. O mais engraçado foi que o seu alvo da atenção, Ari, permaneceu ligeiramente incógnita nas suas verdadeiras intenções, até que confessou que estava com ele por uma questão de sobrevivência. Embora, este duo seja engraçado de ser explorado, é algo com o qual a série passaria muito bem sem. Ari é uma personagem que não desperta grande atenção excepto quando está com Berlim, sendo imediatamente acessória e tendo como único propósito o mostrar uma faceta mais preocupada e menos rígida do chefe da quadrilha.

Tóquio é, sem dúvida, a personagem mais impulsiva, rabugenta e mimada. Num minuto está a jogar à roleta russa, noutro momento está a chorar as pedras calçadas e a sentir-se culpada pela morte de Moscovo. É um pouco bipolar esta nossa querida cujo rabiosque eu venero até à morte (sim, não me digam que não viram aquela obra de arte!). Torna-se um pouco irritante porque queremo-la a ser uma badass mas, por vezes, entrega-se a uma irracionalidade sem precedentes e isso faz com que perca o interesse. Mas bom, suponho que seja esse o objetivo; afinal, o Professor disse que ela era a pessoa mais bomba-relógio ali dentro. E sim, eu confirmo-o.

Para falarmos de Tóquio, convém tocar no assunto Rio, um típico puto apaixonado, completamente assoberbado pelos seus sentimentos o que o leva a atraiçoar os seus companheiros por amor. Enfim. Depois lá se arrepende e vira-se para o lado da equipa. E quando Tóquio volta, parece que o mundo ganha sentido outra vez, mete-se nos conformes e empunha as armas com uma coragem enorme. Eu bem sempre disse que por trás de um homem está uma grande mulher. Rio não poderia ser mais demonstrativo disto.

Denver continua preso na sua burrice. Desculpem ser tão direta mas a verdade é que lhe falta não dois mas três dedos de testa. Convence-se que Mónica está com ele por causa da Síndrome de Estocolmo e decide ignorá-la até que os acontecimentos a tornam cúmplice do gang. E do nada flores e arco-íris e unicórnios outra vez com o casal. No entanto, não vou tirar mérito ao ator que em conjunto com Moscovo foram os donos de uma das cenas mais emocionais de toda a série, tendo sido impossível não ficar embargada com a intensidade da mesma. A verdade sobre a mãe de Denver também veio ao de cima, fazendo com que estas personagens ganhassem mais destaque face à primeira parte.

Nairobi é a verdadeira mulher exemplar da série. É forte, decidida e determinada, muito maternal e preocupada com os seus colegas. É uma verdadeira conciliadora (com excepção de Berlim com quem está sempre às turras). Gostei quando ela decidiu tomar conta das ocorrências, já quando a barraca estava toda desengonçada mas entretanto o stress e o cansaço tomaram conta dela, o que foi uma pena. 
Os mais irritantes

Arturo e Raquel levam o prémio de personagem mais irritantes a quem eu retirava da série num abrir e fechar de olhos. O primeiro simplesmente não aprende. Está revoltado e eu percebo-o, quer sair o mais rápido possível. Mas, sei lá, não podia estar quieto um minuto que fosse? O pior é o facto de estar constantemente a pensar em artimanhas para sair dali quando já se fartou de causar problemas no passado. O mais irónico é que quando é apanhado, chora e mostra-se muito arrependido. Não há paciência. Confesso que quando lhe colocaram "explosivos" à volta do corpo foi extremamente satisfatório. Finalmente lá se controlou o bicho.

Raquel é a inspetora mais incompetente de todas as inspetoras. Como já tinha referido, se eu fosse tão má no meu trabalho, não durava um minuto quanto mais cinco dias. É incapaz de articular a sua vida pessoal com a profissional, mistura os acontecimentos e no final tudo é caótico, ela mal se aguenta nas canetas e refugia-se num tipo que conheceu há um par de horas. É extremamente fraca a nível emocional e mais valia ir a um psicólogo primeiro para depois exercer as suas funções com o mínimo de juízo. 

Momentos espetaculares

Entrega de Tóquio por Berlim
Ela é impulsiva e ele mais impulsivo é. Quando a cena aconteceu, julgo ter deixado o meu maxilar algures num canto qualquer do meu quarto. Que momento de vingança genial.

Quando o Professor se mascarou de palhaço 
Quando uma pessoa pensa que o homem já não pode surpreender mais, não pode ser mais metódico, que algo que lhe escapou no plano todo para lá da sua paixão... Eis que se mascara de palhaço e consegue atingir o seu objetivo. Palminhas palminhas!

A morte de Berlim
Eu não queria que ele morresse mas perdido por cem, perdido por mil. Ele queria morrer com dignidade e isso aconteceu. Vê-lo a ser atingido em câmera lenta concedeu uma boa dose de grandiosidade ao momento.

O fim
O episódio final valeu por alguns episódios mais aborrecidos e a forma como cada personagem saiu do armazém foi épica. Os últimos minutos marcados pelo reencontro entre Sergio e Raquel foram engraçados mas a questão que prevalece é o porquê de se ter passado um ano. Ela não voltou a olhar para aqueles postais em 365 dias?! E é claro que por puro génio - eu diria antes pura coincidência - descobre a localização do seu companheiro.

Momentos menos bons

O salvamento de Tóquio e consecutiva reentrada na Fábrica da Moeda
A forma como o salvamento da moça foi orquestrado foi minimamente satisfatório apesar de servir para demonstrar como as forças policiais espanholas são verdadeiramente incompetentes na presença de uns quantos sérvios. Mas bom, fosse esse o maior problema. Não sou contra o facto de Tóquio voltar à cena do crime e confesso que entrar pela porta da frente montada numa mota é mesmo digna de um prémio qualquer. Infelizmente não fez sentido que não fosse nem por um milímetro atingida e muito menos outra pessoa tivesse que pagar pela sua irresponsabilidade. Mas bom, Rio e Tóquio são ambos doidos e só se estraga uma casa.

Morte de Moscovo
Era uma personagem querida e simpática e não percebi porque o decidiram matar, apesar de obviamente fazer sentido que alguém seja atingido no confronto entre ladrões e polícias. Com tanta artilharia pesada, se os vermelhinhos saíssem sempre ilesos seria demasiado irreal.

A descoberta do Professor 
Então o homem é um pequeno génio e a Raquel é só cega que dói e do nada descobre que o homem com que está envolvida é o Professor por causa de um cabelo da peruca de palhaço?? A sério que em todos os momentos que eles estiveram lado a lado, este foi o que o denunciou? Eu previa que a sua identidade fosse descoberta a certo ponto da série. Todos nós ansiávamos por esse momento. Só não estava à espera que Raquel fosse minimamente esperta a fazer o quer que fosse por causa de um cabelo. 

Mas bom, lá se apercebeu de quem era o seu namorado Salva. Mas então e o que é que ela faz? Tem um ataque de pânico na casa-de-banho, leva-o e prende-o lá e depois transporta-o para a casa de Toledo onde, aquando das juras de amor eterno de Sergio, ela decide não só não prendê-lo numa cela - como seria de esperar - como sair para retornar com um polígrafo sob o pretexto de "estou farta que me mintas". RAQUEL! Oh Raquel! Como assim Raquel? Ganha juízo Raquel! Faz o teu trabalho Raquel! 

A súbita eficiência de Raquel
Depois de tantos comportamentos reprováveis, eis que ela é muito rápida a encontrar o armazém do Professor. Fiquei espantada! Finalmente começou a fazer alguma coisa de jeito. Foi só pena que isso tivesse acontecido no penúltimo episódio da série toda. É claro que o facto de começar a pensar que afinal os bons não são assim tão bons e os maus não são assim tão maus, só fez com que ganhasse mais vontade de lhe dar um estalo. Volto a repetir: esta personagem é má e só ganha um pingo de consciência nos últimos dois episódios. Para isto mais valia ter sido idiota por mais um bocado.

Veredito final

Casa de Papel é uma série extremamente empolgante, inteligente e bem concedida. Infelizmente, a segunda parte cai um pouco a pique no que toca a níveis de qualidade. Mas apesar de terem existido momentos menos bons, de um modo geral continua a ser algo que eu recomendaria sem hesitar. As personagens têm um psicológico muito bem trabalhado e isto é difícil de reconhecer noutras séries, daí continuar a ser muito apelativa para quem a vê. Em termos de assalto, o plano foi muito bem montado; a nível de relações, dinâmicas e feitios, não podíamos ter um festim mais recompensador. A equipa por trás desta obra está de parabéns!

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