Review | La Ragazza Nella Nebia / A Rapariga no Nevoeiro (2017)


Esta Quinta-feira passada, dia 19 de Abril, estreou o policial italiano baseado na obra homónima de Donato Carrisi que, curiosamente, se estreou, assim, na realização. Obviamente que o argumento também a ele lhe pertence. O autor é licenciado em Direito tendo-se especializado em Criminologia e Ciências do Comportamento. Contudo, apesar deste percurso académico ele dedica-se há largos anos à escrita de argumentos para cinema e televisão, contando com inúmeros romances publicados em todo o mundo. Em Portugal existem três obras suas publicadas, nenhuma delas a que originou este filme. É claro que eu já estou mortinha para ler qualquer coisa do autor e tenho quase a certeza que rapidamente traduzirão o livro, pese embora já se tenha passado tanto tempo desde o Call Me By Your Name e ainda nada... 

Estou a divagar. Continuemos.


Se a memória não me falha, julgo que este foi o meu primeiro filme italiano e devo dizer que estou deveras impressionada. A narrativa gira em torno do agente especial Vogel (Toni Servillo) que é enviado a Avechot, uma remota terra no meio de nenhures, para investigar o desaparecimento de uma adolescente de 16 anos, Anna Lou. Embora a trama seja extremamente complexa e bastante inteligente, esta frase pode sumariar bastante bem o filme já que a história se conta nas entrelinhas e eu não vos quero tirar nada. Apesar de intercalar diversos momentos temporais, cabendo ao espectador fazer o seu seguimento, começa onde acaba: no gabinete do psiquiatra Flores (Jean Reno) onde, então, existe a recapitulação da história toda. 

O que mais conquista a audiência é, sem dúvida alguma, as personagens. Vogel tem um um caso perdido no passado e agora quer ganhar a todo o custo. E se tiver que manipular a imprensa, ou mesmo as provas do caso, ou até arranjar um culpado só porque sim - neste caso o professor Loris Martini (Alessio Boni) - ele fa-lo-á. Mas eis que, muito à laia de Gone Girl, a perspetiva do (alegado) culpado é explorada e é assim que o público se encontra no meio de uma trama que o fará de duvidar de praticamente tudo. E isto é uma beleza, senhores!

A mensagem principal é que nem tudo o que parece, é. E, portanto, não podemos confiar em muita coisa pois há sempre alguém para para manobrar os factos em prol de si próprio, o que requer uma dose de loucura mas, sobretudo, de genialidade. La Ragazza Nella Nebia brinca connosco e com a nossa percepção dos acontecimentos mas é sobretudo muito crua a retratar as falhas da condição humana. Serve também de sátira à imprensa e como esta, em conluio com os veículos certos, usa o público para o que lhe convier.

Este perturbador thriller tem um elenco de luxo e, consequentemente, interpretações do caraças (palminhas para Servillo que é tão natural que dói). Mas se a história não for suficiente para vos embrenhar (o que eu duvido, claro), com certeza que a realização e a fotografia exemplares vos farão sentir parte da mesma. De qualquer das formas, que venham mais coisinhas destas e sobretudo nesta encantadora língua.


Nota final: 5/5

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