Review | Encontro Silencioso (2017)


Um filme português sobre praxes? Ou isto corre bem ou isto corre mal. Porque se o cinema português é, na minha modesta opinião, parco em coisas boas (não estou com isto a dizer que não haja, efetivamente, algo bom), não nos esqueçamos do quanto nós gostamos de viver de escândalos, especialmente quando é para apontar os dedos às praxes como se fossem alguma coisa do demónio. Como em tudo na vida, há os dois lados da moeda e se existem pessoas que não sabem praxar (vulgo, uma má praxe), há outros que sabem como fazê-lo (vulgo, boa praxe). Pronto, nada de muito escandaloso neste campo, percebem? 

Boa, ainda bem. Avancemos então.



Mais uma vez, estamos perante um filme português que recebeu um prémio, neste caso o de Melhor Longa Metragem no Indie Lisboa. E eu estou confusa, senhores, confusa! Porque se eu achava que o Aparição tinha sido mau, este então não tem ponta por onde se pegue. E isto entristece-me porque não percebo porque é o cinema português é tão mau. Temos novelas a passarem na TVI com melhor qualidade em tudo: atores, produção, escrita, realização, edição, fotografia... E depois, Encontro Silencioso, um ensaio completamente amador sobre a tradição académica.

Aqui se segue uma análise minuciosa desta maravilha:
  1. Antes de mais, vamos começar pelos péssimos diálogos do qual a fibra deste filme é feito:
    • "Porque é que tens mais matrículas?" "Porque o meu curso é o mais difícil" "Qual é o teu curso?" "O da vida".
      Hum, oi? Então foi este menino que originou a "Escola da Vida" no Facebook!!! Ah, eu bem sabia. 
    • Então e um diálogo onde o "olá, como te chamas?" é extremamente sobrevalorizado e passam uns bons 30 segundos a repetirem o nome um do outro? Qualquer coisa como "eu sou a Marta" "Marta" "e tu?" "Bóris" "Bóris" "Marta" "Eu Bóris e tu Marta" "Marta" "Bóris". Não, não estou a gozar. O que é que é pretendido? Um uso de recurso estilístico? Porque isto afigura-se mais ao uso do, permitam-me, falhanço consecutivo.
  2. Há uma Rafaela no filme! Que não é rapada. Sim, meus amigos. Não é uma maravilha saber disto num filme sobre praxes? Mais uma vez, benditos sejam estes diálogos cuja necessidade é para lá de nula.
  3. Uma característica dos filmes portugueses são as cenas extremamente longas. É quase como se fosse uma espécie de tradição. Antes do mudar de cenas há ali uma quebra de 5 a 10 segundos que faz com que haja uma perda enorme de ritmo. Portanto, eu pergunto-me o que se passou com a edição do filme. O editor não permitia cortar as cenas antes de um tempo mínimo?
  4. O filme é todo ele uma enorme sequência de cenas sem nexo, lentas e demoradas. Desde estarmos dentro de um carro a ser conduzido durante aquilo que me pareceram horas, passando pelos protagonistas a andarem num descampado e ai, que a capa ficou presa numa árvore ou arbusto ou uma porcaria qualquer, a vê-los a rebolarem na lama durante 1 minuto inteirinho. Isto não é do meu agrado (ou de ninguém). Tudo é loooongo, tudo é de-mo-ra-do. Portanto, entre este e o ponto anterior pergunto-me se não havia material suficiente e daí a solução foi terem prolongado as cenas até ao máximo...?
  5. Ainda nos diálogos: os. atores. falam. assim. tão. lentamente. na. vida. real?
  6. Dúvida: as capas agora têm rebordos coloridos? É uma novidade da Copitraje? No meu tempo não era assim. Queria imenso ter tido uma capa preta com um interior cor-de-rosa. Que pena! Deve ter sido uma edição limitada.
  7. Os atores são todos maus com excepção da Marta (Ágata Pinho) e do Bóris (Alexandre David) que simplesmente foram mal direccionados. Mas, para além disso, houve alguma preocupação em fazer um casting sequer?
  8. O vocabulário usado para se dirigirem às praxes é calunioso. A praxe não é "humilhação" e muito menos as pessoas têm que "sofrer". Ganhem juízo.
  9. A cena que menos faz sentido (de entre todas as que não fazem) é mesmo o teatrinho que junta os 5 protagonistas. Sim, há 5 pessoas que estão numa sala vazia e, do nada, estão a incorporar uma peça de teatro. Porquê????
  10. Venderam-me o filme como uma viagem ao mundo obscuro das praxes, onde as personagens se inseriam num ritual místico. Hum, qual? O da parvoíce exacerbada? 
  11. Lembram-se da parte de eu ter dito que este filme não fazia sentido? Num minuto somos levados à Alegoria da Caverna de Platão, no outro estamos perante um cenário de chuva dourada (aiiii, como se o filme não pudesse alcançar contornos ainda mais idiotas!), no outro temos as protagonistas femininas a beberem vodka e a flirtarem. E nem um beijinho para animar a malta.
  12. Para quem estava tão preocupada com a depilação, depois espetam ali com cuecas da avó que é uma maravilha (mas mostrar as maminhas já não há problema!). Ninguém usa sacos de pão na faculdade, meus amigos. Ninguém!
O filme é consistente numa coisa: é mau, ponto final. Não há nada de nada de nada que se aproveite. A cereja no topo de bolo é mesmo o final espetacular com os protagonistas a desaparecerem na calma do rio. Mais valia terem ido para a Ericeira para que ninguém lhes pudesse apontar o dedo à credibilidade... Enfim, factos reais? Só tenho uma coisa a dizer: grande seca!


Nota final: 0/5

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