Entrevista | João Arrais


João é o típico jovem de "quase 23" anos: é descontraído, simpático e com um sorriso convidativo. Quando falei com ele calçava uns singelos ténis Reebok de edição limitada. Percebi que a paixão por ténis era algo que tínhamos em comum e em conversa fiada tenho eu o Doutoramento. Foi por aí que comecei e de imediato percebi que para além de um ator extremamente talentoso, é humilde e bastante acessível. E com menos bigode claro. É também bastante eloquente e com grande maturidade. Foi, então, num ambiente super informal que estive à conversa com ele.

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Já fizeste imensas coisas. Como é ser protagonista?

Não sei se é bom ou mau ser protagonista. Pode ser bom ou pode ser mau. Eu tenho um bocado medo de aparecer muito porque não goto de me ver. Tudo em que apareça muito faz-me confusão portanto tem esse lado negativo. Mas ser o principal tem a vantagem de poderes ser o soldado Milhões. Acho que tem as suas vantagens e desvantagens mais o mais importante é o papel, portanto ser o protagonista ou secundário para mim é completamente irrelevante. Eu gosto é de fazer bons papéis, bons projetos e foi o caso. Por acaso era o protagonista e o soldado Milhões!

Como pessoa real, isso traz mais responsabilidade do que se fosse um pessoa que nunca tivesse existido? Existe aquela necessidade de homenagear a pessoa?

Sim, sem duvida. Para além de ser uma pessoa real, é um herói e é um herói que é representado pelo Miguel Borges, que para mim é um ídolo e por isso impunha mais responsabilidade. Para alem disso já tive pessoas, parentes do Milhais, ou Milhoes porque eles depois adotaram o nome, a comentar fotos em que lá estou, por isso traz mais responsabilidade porque tenho que fazer um bom trabalho. Isto é a vida de alguém, isto é a família de alguém.

Como é que era o ambiente nas gravações?

Ótimo!

Nota-se que vocês têm uma boa química.

Nós não gostamos muito uns dos outros mas isto aqui para o show off e ótimo. (risos). Já conhecia o Teotónio de outros projetos, já conhecia o Raimundo, o Isaac também, o Ivo... Aliás, já conhecia toda a gente. Tivemos imensa gente do Conservatório, da Escola Superior de Teatro e Cinema a fazer também papeis lá porque achou-se importante haver outros atores para criar mesmo o espírito. Apesar do ambiente ter sido duro foi super divertido.

Duro porquê?

Porque eram 40 graus em Alcochete, a subir e a descer, a levar com pó, terra, pedras... Não foi fácil mas foi divertido. O facto de não ter sido fácil tornou a experiência única.

Já tens aquela coisa de olhar para trás e pensar "se calhar não devia ter feito aquele projeto"?

Há projetos melhores que outros como é óbvio mas tudo aquilo que fiz, fiz com consciência do que estava a fazer e não aceitei nada ao acaso. Aprendi com tudo e todos os momentos foram essenciais nem que tenha sido naquele momento da minha vida. Não vou dizer que me arrependo porque se calhar daqui a 5 anos vou-me arrepender de ter dito que me arrependia de ter feito X, portanto acho que aprendi imenso em todos os projetos e isso é o mais importante.

Tu estudas. Vais fazer o quê? Seguir o teu curso, a representação ou os dois?

Não, de longe. Não gosto particularmente de Marketing mas foi uma decisão que tomei com 18 anos porque queria um plano B. Achei que com 18 anos precisava de um plano B. Mas não me arrependo porque acho que é importante; apesar de ter estado a trabalhar muito desde novo, isto daqui para a frente pode não resultar por diversas razoes. Mas espero tirar o curso, agarrar no canudo, enrolá-lo e dizer "toma mãe, não me chateies, põe dentro da gaveta e fecha". Atenção, os meus pais sempre me apoiaram imenso. Se eu dissesse à minha mãe que não queria, não queria. Mas tenho a noção que a minha mãe gostava que tivesse um curso e eu também fui contagiado. Bom, que são 3 anos? Estou a aprender outras coisas que não me interessam particularmente mas estou a aprender e não sei, vamos ver o que acontece.

Se tivesses que ir para a guerra de hoje para amanhã, que personagens serias? Serias o Aníbal?

Epá... Seria porque pelo menos tinha certezas que tinha sobrevivido. O Raimundo não teve essa sorte e há uma ou outra personagem que também não. Prefiro ser o herói ou então preferia ser um capitão porque eles deviam estar ligeiramente melhor que os soldados.

Mas eles gritam muito!

Pois é, depois com a voz é chato. Tens razão, quero ser o Milhais.

Mas ele não sabia que ia ser um herói! Se calhar querias ser o soldado destemido que depois se torna no herói como plus.

Exato também pode ser. Então... Se eu não sei que vou ser o herói preferia ser um capitão. Estava mais seguro (risos).

A nossa geração não sabe o que é esta coisa da guerra, o que é passar por uma. Quando tens que fazer uma personagem destas, relativamente ao contexto em que esta inserida, para onde tu viajas? Porque não é uma realidade com que estejamos familiarizados.

Não, de todo. Eu já tinha feitos alguns filmes de guerra, nenhum deles sobre a primeira, mas já tinha alguma bagagem, por exemplo, a nível de manuseamento de armas, recrutas e essas coisas todas. Mas a nível de História, em qualquer papel tens que saber o contexto histórico e eu sempre gostei de História, sempre fui muito interessado, e então já sabia mais ou menos. Depois foi trabalhar, pesquisar, ler, falar com pessoas, com o meu avô. Também tivemos alguns historiadores na rodagem por isso foi trabalhar, "só". E felizmente não tenho uma noção do que é estar em guerra.

Quais são os próximos projetos?

Neste momento estou a fazer uma novela, Vidas Opostas na SIC. Existem outros projetos mais ou menos pensados mas estão nos segredos dos deuses. É esperar e ver.

Gostas mais de televisão ou cinema?

São formatos diferentes. O cinema tem a vantagem de podermos ter mais tempo para fazer as coisas. É um ritmo diferente, aprendem-se coisas diferentes, exigem coisas diferentes dos atores e das pessoas mas eu gosto dos dois, sinto-me bem nos dois, senão não fazia nenhum. Gostava de fazer mais cinema mas isso é em todo o Portugal. 

Tens algum ator favorito?

Acabei de ter dizer um e que estou farto, farto de elogiar hoje que é o Miguel Borges, que eu acho... Inacreditável. Vi-o há pouco tempo em palco pela primeira vez no Todo o Mundo é um Palco  no Trindade e ele é um bicho, um animal. No bom sentido!  Já trabalhei com ele várias vezes e sempre foi uma pessoa por quem tive muito respeito e admiração.

Atendendo ao facto de que tu és a versão mais nova e ele a mais velha da mesma personagem, tiveram alguma conversa sobre como conciliá-la?

Sim. Nós achámos que o mais importante foi criar uma energia. Fazer com que a energia com a qual a minha personagem acaba, justifique a energia com que ele começa a outra. E eu espero que isso tenha sido conseguido, pelo menos demos o nosso melhor, tentámos (risos).

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