Entrevista | Ivo Canelas


Ivo Canelas é uma pessoa muito direta e verdadeiramente interessada no outro. É também das pessoas mais acessíveis com quem já tive o prazer de falar. É educado, simpático e divertido. A sua personagem no Soldado Milhões, o Capitão Ribeiro de Carvalho, passa o tempo todo a gritar. Decidi perguntar-lhe, em jeito de introdução, o que fez para acalmar a sua garganta, se chá de limão e mel, Mebocaína ou Strepsils. Podia ter dado para o torto mas ele riu-se (e ainda bem!). 

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Tu interpretas a personagem que é um Capitão, logo, está associado a "controlo" e "responsabilidade". És assim no dia-a-dia ou és mais descontraído?

É uma personagem e acho que eu... menos. Menos capitão.

É desgastante ser ator?

Como qualquer profissão a que tu te dediques. Tem um lado que sim e outro que não. Acho que há um lado que se auto-alimenta e por isso não cansa e depois depende da tua personalidade. Acho que dependera muito da tua personalidade a forma como esta profissão te desgasta ou não.

Tendo em conta que tu, por exemplo, em 2017 fizeste imensas coisas, portanto, tens que estar sempre a ser tu e mais alguém ao mesmo tempo, a certa altura vais dormir e sentes-te como se sofresses de um distúrbio de personalidade múltipla? 

Não... Acho que se calhar o melhor exemplo é como nós somos diferentes para muitas pessoas diferentes. Se calhar é algo semelhante a isso. É algo gerível que a tua consciência gere com facilidade e depois consoante o trabalho que tens, vais apontando luzes em áreas da tua personalidade que tenham mais ou menos a ver com aquilo que estás a fazer, por isso vais dirigir a tua energia para essas áreas para expores mais cá de fora que outras.

O que é que gostas mais na tua profissão?

Gosto muito da tolerância que me ensina em relação a pontos de vista diferentes. Gosto muito do processo que tens que fazer para acreditar em alguma coisa que se calhar naturalmente não acreditarias. E acho que estão juntas, essa tolerância com o que tens que fazer, porque há coisas que os personagens podem defender e tu não defendes e encontrar essa verdade, encontrar o sitio onde tu entendes, porque é que defendes, porque podias defender, e depois o sitio onde deixas de entender e passas simplesmente a acreditar por mais certo ou errado que seja. Gosto muito dessa amoralidade.

Como foi trabalhar com o Gonçalo e com o Jorge?

Fixe! Já conhecia os dois. Foi rápido, eles também são rápidos e correu muito bem.

A tua personagem foi fácil, difícil, entraste logo...?

Foi eficiente. É mesmo o tempo que temos. É uma personagem pequena por isso requer menos espaço para contar a história do que os outros. Portanto encontrar [espaço] para ajudar a contar a historia de forma mais eficientemente possível... Às vezes, não há muito tempo para aprofundar muitas coisas por isso temos que acreditar nelas o mais possível para ser o mais verdadeiro possível.

Tu és um ator com muita experiência e neste filme contracenaste com atores muito mais jovens. Sentes algum tipo de responsabilidade ou que tens um papel paternal?

(risos) Ora bem, é engraçado. Não sinto nada, nem maternal nem paternal. Acho que como colega ator, é muito delicado aquilo que dizemos uns aos outros como colegas, professores, mestres. Até se tivesse vontade de dizer alguma coisa, proibir-me-ia de dizer porque há coisas que só o diretor pode dizer; há outras que posso dizer mas são completamente subjetivas, eu estou tão dentro como eles e não seria a pessoa ideal para dizer se está certo ou errado. Eu posso achar que está errado mas é completamente subjetivo. Caber-te-á a ti determinar se é por esse caminho que queres ir ou não. Acho que só diria qualquer coisa se no foro da falta de profissional. Mas no foro criativo não diria nada.

2017 foi um ano muito ocupado. Quais são os teus projetos em 2018?

Se tudo correr bem irei filmar com o Ivo Ferreira a série Sul para a RTP1 e por enquanto é assim.

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