Review | Red Sparrow (2017)


Jennifer Lawrence despe-se de preconceitos no mais recente filme que protagoniza. E se isto não é o suficiente para espicaçar a vossa curiosidade, não se preocupem porque eu dar-vos-ei tudo aquilo que necessitam para se deixarem convencer a ir vê-lo ao cinema.



Em 2013, Jason Matthews, um antigo agente da CIA, instituição para a qual trabalhou durante 33 anos, decidiu escrever um livro ao qual lhe deu o nome de Red Sparrow. A sua história foca-se na magnífica Dominika Egorova, uma antiga bailarina russa caída em desgraça, que, devido a desenvolvimentos, se vê a trabalhar para a SVR, a agência externa primária de inteligência da Rússia. Paralelamente, foca-se no americano Nate Nash, que trabalha para a CIA, e se vê "destacado" para uma missão em Helsínquia. Quis o destino que as duas personagens se juntassem e começa assim um perigoso jogo de sedução, espionagem e contra-espionagem. 

Matthews vendeu os direitos do seu livro por um valor de sete dígitos à Paramount Pictures, Francis Lawrence realiza a obra e Justin Haythe (Cure for Wellness, Revolutionary Road) escreveu o argumento. O elenco conta com nomes sonantes. Jennifer é Dominika, Joel Edgerton é Nate Nash, Matthias Schoenaerts é Vanya Egorov, entre tantos outros como Charlotte Rampling, Jeremy Irons (fantástico que dói!), Joely Richardson, Mary Louise Parker (da série Weeds).

Red Sparrow é um filme bastante forte. É agressivo, é sexual e é sangrento. É, também, bastante focado no elemento sedutor da história. A verdade é que Dominika é uma Sparrow (deixemo-nos ficar pela versão original já que "pardal" soa-me mal), o que quer dizer que passou por aquilo que ela considera ser uma Escola de P*tas, isto é, uma escola onde é ensinado a um número reduzido de alunos, como seduzir, ir para a cama de forma totalmente desligada, ver o sexo apenas como um ato mecânico e físico, tudo isto para obter informações e ganhar a confiança de quem quer que a SVR precise para espiar/matar/torturar. Mas Egorova é, apesar de tudo, uma mulher bastante inteligente que apenas se vê envolvida nesta intrincada história de espionagem porque o seu querido tio Vanya usa sua a mãe como moeda de troca. Elas poderão manter a casa e acesso a cuidados de saúde se Dominika o ajudar numa pequena coisinha.

E bom, depois todo o filme acontece.

Jennifer Lawrence é uma talentosa atriz que encontra aqui um papel totalmente diferente daquilo que já fez. No entanto, peca por uma coisa: Lawrence é uma jovem que tem uma imagem absolutamente desgastada porque aparece bastante nos media. Explicar-me-ei. Ao contrário de atores de velha guarda, que não dão entrevistas e se mantêm o mais afastados possível das câmaras fotográficas, Jennifer faz exatamente o oposto. Assim, por mais que seja extremamente habilidosa naquilo que faz (e a moça está espetacular neste filme!), há sempre uma parte de mim que não acredita nela. Quando está a ser torturada eu sei que ela não está a sofrer verdadeiramente. Na verdade, nenhum ator está, claro. O problema passa apenas única e exclusivamente pelo facto de quanto menos eu (re)conhecer um ator, mais credível ele me parece ser. Não o associo imediatamente à pessoa real. Vejo-o na sua personagem e quando o volto a ver noutra obra, foco-me no seu trabalho mais do que na sua identidade. Com Jennifer há um trabalho difícil nesse sentido já que passa muito tempo debaixo dos holofotes. No entanto, longe de mim retirar-lhe o mérito pela sua Dominika. A forma como a personagem é suposto ser assenta que nem uma luva na figura de Lawrence. O único ponto negativo é mesmo o seu terrível sotaque russo, o que me faz perguntar se não haveria uma atriz russa - fluente em Inglês - disponível para o trabalho. 

É claro que eu tenho uma tendência para descobrir os pormenores dos filmes depois. Assim que soube que era baseado num livro, tratei imediatamente de o comprar. E é aqui que devo pôr um enorme travão na versão cinematográfica de Red Sparrow. Ainda que esteja absolutamente consciente da keyword ser "baseado", devo dizer que o filme em pouco ou nada faz jus ao livro, muito menos no que toca à maior parte dos acontecimentos. Apenas um ou dois episódios são conservados mas não na sua totalidade e fugindo a detalhes como o sexo dos envolvidos e outros pormenores como as respetivas idades (por exemplo, Vanya Egorov tem 60 e poucos anos no livro ao passo que o seu representante no filme tem 40 anos). O local onde a maior parte da ação é passada também não é o mesmo. Como dito ao início, a ação no papel é passada em Helsínquia ao passo que no filme mudaram a localização da mesma para Budapeste (?). Há um imenso escrutínio da Escola de Pardais no filme, o que eu posso compreender tendo em conta que uma Jennifer nua é algo que atrairá, com certeza, bastante audiência. No entanto, aquilo que se fala sobre a mesma no livro é muito pouco e as aulas representadas são, obviamente, fruto da imaginação do argumentista. E, obviamente, não nos esqueçamos que o desenvolvimento de personagens é muito maior num livro de 500 páginas. Ou seja, resumindo e baralhando, estamos perante duas coisas completamente diferentes uma da outra. Não obstante, eu gostei imenso de Red Sparrow em ambos os formatos embora atendendo às consideráveis diferenças. É uma história muito cativante, inteligente, com atores conceituados e que fazem um trabalho notável. Achei refrescante ver Lawrence num papel deste género pois sinto que muita gente ainda a tem colada à Katniss Everdeen. É também muito mais agressivo do que eu alguma vez esperaria que fosse o que augura alguma cautela no seu visionamento (especialmente às crianças que vêem em Lawrence a personagem supra-citada). Não obstante é uma grandessíssima estreia da semana e vale todo o bilhete de cinema. Quem vos avisa, vossa amiga é!


Nota final: 4/5

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