Review | Marvin ou la belle éducation (2017)


Sinto que Call Me By Your Name e o seu sucesso abriu portas para filmes que foquem o tema da homossexualidade. E é claro que há varias formas de abordar este assunto. Ao contrário do primeiro, Marvin não é um filme tão facilmente digerível sobretudo porque o protagonista nasce numa família pobre - a todos os níveis - e vê-se frequentemente vítima de bullying. Um retrato que, por certo, traduzirá de forma cruel a vida de muitos homossexuais. Não contem com floreados e cenários bonitos. Contem com uma obra que vai muito mais a fundo no tema (no pun intended!).


Apesar de cada vez mais gostar do cinema francês, devo fazer uma adenda à falta de expressão do seu povo em geral. Não sei se sou eu que sou muito expressiva ou se o problema é o material americano que abunda a nossa realidade portuguesa e o pessoal fica habituado a ver gritos e micro-expressões e fúria e lágrimas e riso e tristeza, etc e tal (a menos, claro, que nos chamemos Kristen Stewart e aí quanto mais prostrado melhor). Estamos perante um filme intenso e o único ator que me dá uma boa interpretação, rica e genuína, é o pequeno Marvin (Jules Porier). Nesse sentido, esperava muito mais de Finnegan Oldfield (o Marvin versão mais velha). Tem algumas cenas onde lhe consigo captar a personagem mas noutras podia ter sido muito melhor. Podia ter defendido a intensidade do momento de uma forma bem mais eficaz e, já agora, podia ter-se entregado da forma como o papel merecia.

Obviamente não estou a pôr de lado as características que a personagem requer. Estamos perante um jovem sensível, perdido e na fase de aceitação da sua orientação sexual. Tudo bem. Mas isso não quer dizer que o ator possa adoptar uma postura onde impera a inexpressividade facial, acompanhada de um olhar vítreo e confuso (do género, o que raio devo fazer agora). De forma geral, há uma inércia que me deixou bastante frustrada. Mas se calhar é uma coisa dos franceses já que a famosíssima Isabelle Huppert é um pouco mais do mesmo embora numa versão melhorada. Há uma descontração e naturalidade perante as câmeras que não pude deixar de captar versus alguma tensão do jovem ator Finnegan. Pergunto-me se Huppert não poderia ter dado algumas lições ao nosso protagonista...

Anne Fontaine é quem realiza esta obra e apesar de começar por ter um bom ritmo, a verdade é que depois estagna um pouco, característica pessoal do seu trabalho. A certa altura é um filme que se torna cansativo dando a sensação de poder ter sido encurtado.

Marvin é uma história muito forte e com uma grande mensagem especialmente porque vai estabelecendo paralelismos entre o passado e o presente. Apesar da sua infância terrível, ele procura um futuro melhor daí que se mude para Paris com o objetivo de ir atrás de uma carreira enquanto ator (já que, na escola, a improvisação permitiu-lhe um escape aos seus problemas). No entanto é um filme que devido à sua realização e ao seu ator principal se torna fastidioso. O que é uma pena. Acho que vale a pena continuar a investir na "normalização" do tema. São obras destas que permitem a propagação de uma mensagem de aceitação o que, de si, tem bastante valor.


Nota final: 3/5

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