Review | The Shape of Water (2017)


Voltemos aos tempos da pequena sereia que, assim de repente, é uma alusão muito imediata e possível de se fazer para com este filme.


Guillermo Del Toro sempre quis escrever uma história parecida com a Bela e o Monstro onde este, na verdade, nunca se transformasse e fosse em si uma criatura maravilhosa. Vai daí realizou, produziu e escreveu esta obra que nos fala de Elisa Esposito (Sally Hawkins) e da paixão que desenvolve pelo "monstro"/sereia masculina/homem-anfíbio (Doug Jones), o-que-lhe-queiram-chamar. Percebo que seja algo difícil de assimilar mas a verdade é que tudo faz bastante sentido: sem ser a sua colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer) e o melhor amigo Giles (Richard Jenkins), Elisa sente-se sozinha e mais ainda tendo em conta que ela é muda e nem toda a gente sabe ler o que ela diz (a não ser estes seus amigos). No entanto, consegue comunicar com o Monstro pois também ele não fala e assimila os gestos que ela faz após a sua associação com os objetos, começando a desenvolver Língua Gestual 101. Quando descobre que ele está preso, e é torturado pelo hediondo Richard Strickland (Michael Shannon), Elisa entra numa missão de salvamento pois o mesmo é usado para fins laboratoriais. Curiosamente, conta com a ajuda do Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg que se encontra em dose dupla no cinema sendo que o podemos ver no papel de Mr. Perlman em Call Me By Your Name), um infiltrado russo que quer proteger a criatura pois o seu dever enquanto cientista é maior que o dever que sente para com seu país.

Quem assiste à obra de Del Toro sabe ao que vai pois o realizador deixa um legado bastante particular no que toca aos seus filmes. Mas mais do que a história em si, há a atenção aos pormenores: os cenários estão cheios de detalhes intrincados e a própria concepção da criatura foi algo bastante moroso e implicativo de grande trabalho. Para além das horas de caracterização, a própria vestimenta tinha que personificar algo belo e maravilhoso sem deixar a associação com a palavra "monstro" de lado.

Portanto, no meio de tantas histórias de amor que estão agora no cinema, surge esta com alguns laivos de zoofilia pelo meio (brincadeirinha...?) mas numa fábula onde a mensagem que prevalece é mais importante: num mundo onde nos sentimos sozinhos, há aquele ser especial que nos vê como nós somos sem prestar atenção aos traços que, de alguma forma, nos incapacitam, fazendo-nos sentir completos. E isso é algo pelo qual vale a pena lutar.

The Shape of Water é um filme que se move a um bom ritmo e tem várias linhas narrativas: temos a amizade entre Elisa, Giles e Zelda (em diferentes contextos), temos o amor que Elisa desenvolve pelo seu monstro, a forma como esta se torna numa personagem feroz e bastante forte, mas também temos o lado mais negro da história onde a ambição e a podridão de Strickland se misturam com a virtuosidade do Dr. Hoffstetler. Claro que todos estes momentos se entrelaçam e temos, assim, uma obra muito bonita e que vale a pena ser vista. Del Toro traz-nos um romance, algo diferente do que é habitual em si, mas que acaba por funcionar muito bem enquanto produto final.


Nota final: 4/5

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