Review | M.F.A. (2017) - Motel X


Não, não vim falar do Movimento das Forças Armadas.

Vim antes falar de um grande, grande filme realizado por Natalia Leite, que é bem provável que tenha usado este seu projeto como forma de expulsar os seus próprios demónios uma vez que a história é baseada nas suas experiências.

Infelizmente não há trailer disponível no Youtube e só consegui encontrar um pequeno clip:


Noelle (Francesca Eastwood) é uma estudante de Belas-Artes que é violada e, descobrindo que não é a única vítima no campus, decide exercer justiça pelas suas próprias mãos.

Ora bem, isto tem tudo para dar certo, certo?

Certo.

Não sei por onde começar mas estamos perante uma obra poderosíssima, que é manifestamente bem defendida pela filha de Clint Eastwood (e a sério, o raio do homem só tem filhos bonitos?!) que a carrega maravilhosamente bem aos ombros. A sensação que me é passada é que estamos perante uma mensagem crua e bastante real: infelizmente quem é violada é vista com piores olhos que o próprio violador. Na verdade, há cenas em que me senti revoltada perante a hipótese de corresponder a diálogos que poderão muito bem ser reais ("Disse que não? O que é que bebeu? Mas tem mesmo a certeza que disse "não"?"). E numa altura em que se fala tanto dos direitos das mulheres e tanta atenção se dá ao female empowerment, tenho a dizer que a nossa heroína é forte e carismática e representa uma faceta bastante resiliente dando abertura a que se possa ver o ato de violação como uma possibilidade de dar a volta por cima (calma pessoal, não estou a apelar ao homicídio; Noelle começa a dar-se muito bem no seu Mestrado e até é convidada a fazer o discurso final de curso) para lá da tragédia em si, que, obviamente, nunca deixará de o ser.

De qualquer das formas, tenho apenas um reparo a fazer: achei a cena da violação muito pouco credível. Passo a explicar: quando uma mulher se apercebe do que lhe está a acontecer, tende a fugir, a espernear, a berrar, a esmurrar... E não foi isso que aconteceu. Noelle quase que cedeu. Enquanto mulher não me imagino, em tempo algum, a ceder perante um ato deste género. Assim sendo, achei que Peter Vack (Luke) foi bruto o suficiente, ao passo que gostaria de ter visto mais violência na contestação por parte da personagem feminina. 

Vocês não estão preparados para isto: M.F.A é um filme que tem de tão intenso como de espetacular. Colmata num final que pode deixar alguns insatisfeitos mas que a mim me deixou com uma sensação de justiça poética. Simplesmente vejam pois não se arrependerão.


Nota final: 5/5

Mensagens populares