Review | Mudbound (2017)


Eu não sei quanto a vocês mas até agora 2018 não me tem trazido outra coisa senão filmes bons que valem muito a pena. Com excepção, claro, do The Commuter. Mas continuemos.

Mudbound traz-nos duas famílias paralelas que se cruzam no Mississípi aquando da mudança dos McAllan e para a casa onde trabalham os Jackson. Histórias de vida completamente diferentes que têm uma coisa em comum: em cada uma delas, um membro foi defender o país na II Guerra Mundial. Assim, Jamie McAllan (Garrett Hedlund) e Ronsel Jackson (Jason Mitchell) acabam por se juntar e fomentar uma bela amizade entre ambos mas condenada pela diferente cor de pele. Levantando, mais uma vez, o tópico do racismo, não há como sair indiferente da sala de cinema. Em entrevistas feitas ao elenco, todos fizeram questão de notar que, no geral, se fala do filme como um relato ainda muito atual do que se passa. Consequentemente, por mais que a época retratada seja diferente, o racismo ainda se mantém e todos os elementos fizeram questão de salientar esse aspeto. 
Ainda que o racismo seja o assunto mais evidente, temos também personagens complexas cada uma debatendo-se com uma luta pessoal. Por um lado, os McAllan são tudo menos uma família feliz. Fingem que são e parecem viver minimamente confortáveis com isso. Infelizmente Laura (Carey Mulligan) é quem ainda mais se debate sobre este vazio na sua vida mas quando Jamie vai viver consigo e o seu marido Henry (Jason Clarke), a atração entre ambos é inegável. Por outro lado, Florence (Mary J. Blige) e Hap (Rob Morgan) são um casal muito unido mas que vive no limiar de tudo: de dinheiro, de comida, de segurança e estabilidade, tentando ao máximo balançar tudo com o crescimento de mais três filhos. Quando Ronsel volta a casa já não é o mesmo e existe também um conflito entre o que os pais acham melhor para o seu filho e o que ele sente em relação ao estar de volta. Infelizmente, o tratamento que lhe é dado não é o mesmo que recebeu na Europa e isso causa-lhe muita angústia pelo facto de se ver anulado no Mississípi devido à sua cor de pele.
Estas e outras questões são abordadas neste intenso filme. Mudbound tem origem no livro homónimo de Hillary Jordan e é realizado e escrito por Dee Rees (com ajuda de Virgil Williams no argumento). Se por um lado, um realizador é o mestre que assina a obra, na verdade esta não seria o mesmo sem o talentoso elenco que o compõe e muito menos atendendo ao facto de ter sido gravado em 28 dias. Apesar de todas as pessoas terem feito um grande trabalho, não há nada como o incomparável desempenho de Garrett e Jason, cuja química se percebe existir para lá da tela. Só eles fazem o filme e obviamente que estão envolvidos na cena mais forte e revoltante que esta obra retrata. Aliando um bom trabalho de luz, o desespero das personagens passa para a audiência e é impossível não sentir a mesma angústia e nojo.
Mudbound é um filme de uma época distante que, infelizmente, nos faz perceber que não retrata uma realidade assim tão longínqua, apesar de acreditar que caminhamos para uma sociedade melhor. É um filme que contribui nesse sentido, pela sua poderosa mensagem, sendo dotado de uma grande relevância e, portanto, é algo que tem que ser visto agora e de forma urgente.

Nota final: 5/5

Mensagens populares