Review | The Lobster (2015)


Não é novidade para ninguém que achei brilhante The Killing of a Sacred Deer, um verdadeiro regalo prazenteiro para estes olhos. Após a sua visualização, foi-me dito que era obrigatório ver The Lobster e, após fazer o meu trabalho de casa, duas outras referências que me surgiram muitas vezes foram Alps e Dogtooth (ainda não vi mas rapidamente o farei).


O que esperar de uma forma geral? Estamos perante uma história de amor. Mas uma história de amor à moda de Yorgos, algo que, confesso, nunca pensei existir. Até que percebi que não só não é possível como dentro da sua perversão a coisa funciona muitíssimo bem.

Quando se contacta com o trabalho deste autor há logo características muito evidentes das quais se destacam os diálogos muito mecânicos e pausados, numa estranha musicalidade inerente a todas as personagens que tanto se perdem, na maior parte das vezes, em assuntos completamente obsoletos constituídos pelos factos mais irrelevantes e triviais que se poderia pensar, como se entregam a tópicos absolutamente relevantes para a ação do filme. Adicionemos-lhe a estranheza destes diálogos e das personagens e temos sempre presente uma aura de inquietação a envolver-nos, aspeto esse que caracteriza The Lobster e também a obra mais recente de Yorgos. Nunca nos conseguimos ambientar ao que estamos a ver e, ponto mais importante, nunca nos conseguimos segurar ao final que ele nos dá. Mas o que seria Lanthimos sem a sua banda sonora potenciadora de ataques cardíacos? Se há alguém que sabe usar música em seu favor é ele.

Collin Farrell (David) é simplesmente brilhante do início ao fim representando um tal estado de apatia e indiferença dificilmente associados a um ator cuja vida pessoal sempre foi cadenciada por muitos holofotes pelas piores razões. Por trás desta fachada toda Hollywoodesca, o realizador pediu a Farrell para entrar no seu filme e, como já sabemos, a parceria correu mais que bem. Engraçado que tal tenha acontecido sem que Yorgos explicasse muito do seu trabalho. Aparentemente não só gosta de deixar o seu público inquieto e sem grandes respostas como não gosta de esclarecer ao seu próprio elenco. Mas Farrell não está sozinho: Rachel Weisz, Léa Seydoux, John C. Reilly, Ben Whishaw...Enfim, um cardápio de estrelas todas elas importantes e todas elas com as suas, digamos, manias.

(SPOILERS ALERT!)

Falemos agora do final. O final, senhores! Confesso uma certa limitação na sua interpretação pois a mim pareceu-me óbvio que David estava prestes a cegar-se para poder "ver"o mundo da mesma forma que a sua amada (Short Sighted Woman que rapidamente se transforma em Blind Woman). Mas se o amor é uma coisa muito bonita e é aqui o protagonista, o cinismo também tem o seu destaque e o final é mesmo deixado em aberto: ele pode não se ter cegado. Se calhar pensou melhor nas alternativas e fugiu. Ou então pode ter mentido. Não nos esqueçamos que David era adepto fervoroso da mentira enquanto lhe fosse conveniente à sua sobrevivência. E, bom, ficar sem a sua visão não seria grande escolha congruente com as suas palavras.

(FINAL DE SPOILERS!)

The Lobster é, sem qualquer espécie de dúvida, um grande filme mas o trabalho do autor é muito específico. No entanto, a sátira à sociedade e às relações está lá, as performances estão lá, a direcção e a música estão lá, o suspense e o mindfuck também... Simplesmente vejam-no o mais depressa possível.


Nota final: 5/5

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